O por de sol e as curvas que o avô gostava por Antonio Villeroy
Meu avô Zeca sentava
no portal da casa
e ficava olhando na calçada
o desfilar da rua
Passava Zezo que vendia loteria
Passava um outro que vendia cardeal
vez em quando vinha o homem da galinha
que vô Zeca arrematava pro quintal
São tão vivas as lembranças desses dias
eu olhando pelo olhar de meu avô
o entra e sai no revisteiro e na farmácia
o afiador com seu apito e seu "chapeau"
o velho recoberto pelo talco
a mocinha com carrinho de bebê
a mendiga moribunda
qualquer coisa lhe deixava interessado
sua forma de pensar era profunda
mas de tudo o que passava em seu quadrado
o que de melhor caia em seu agrado
era o belo balançado de uma bunda
Hoje quando pego a bicicleta
e saio em devaneios pelo vento
volta e meia me recordo, desse avô
guardado em pensamento além do tempo
Sigo pela praia de Ipanema
que, em criança, eu já sonhava
tão distante
lá no pampa
imaginava essa paisagem
onde vim parar depois de andar errante
E o sol se põe
e o céu repõe em seu tecido
o repicar de estrelas que já são cativas
e as recebe com recortes dessa luz
que o sol envia pelo mar em cores vivas
Às vezes, vou sozinho e me contento
com a beleza
que diante a mim se insatala
nuvens, brisa, cheiros
me permeiam
tudo me seduz e a mim me fala
mas não nego o gene que me foi legado
nem as coisas que aprendi na minha infância
e o mundo fica bem mais encantado
se uma bela me balança a sua trança
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